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A Grécia é a ponta do iceberg

Em entrevista exclusiva a EXAME, o economista Nouriel Roubini descreve aquilo que considera o "castelo de cartas" das finanças globais

Tiago Lethbridgede EXAME
25/05/2010 | 09:14
Roubini: se o calote é inevitável, não há motivo para adiar a reestruturação da dívida
Roubini: se o calote é inevitável, não há motivo para adiar a reestruturação da dívida

 

A popularidade do economista americano de origem turca Nouriel Roubini costuma oscilar na razão inversa da situação econômica mundial. Em momentos de euforia, o professor da Universidade de New York tende a ser visto como um chato de plantão, aquele cri-cri que busca problemas onde os outros veem soluções. Não à toa, ficou conhecido como Dr. Apocalipse. Mas, quando as crises previstas por ele se materializam, acontece o contrário. Sua fama atingiu o apogeu em 2008, durante o pânico causado pela quebra do banco americano Lehman Brothers. Roubini, que havia previsto o colapso, tornou-se uma espécie de economista popstar. Agora, em meio à crise que lançou o euro em incerteza, as palavras de Roubini, um velho crítico da união monetária europeia, voltam a ganhar peso. Para ele, a endividada Grécia é apenas a ponta do iceberg - e os problemas que abalam o país podem ser encontrados também em potências como Estados Unidos, Japão e Reino Unido. Segundo ele, as finanças governamentais são um castelo de cartas prestes a desabar. Uma boa notícia: o Dr. Apocalipse alimenta um cauteloso otimismo em relação à economia brasileira. Roubini viaja ao Brasil para participar da segunda edição do EXAME Fórum, no dia 31 de maio, com o tema "Brasil - A construção da quinta maior economia do mundo". Antes de embarcar, deu a seguinte entrevista a EXAME.

EXAME - No dia 10 de maio, as bolsas dispararam com o anúncio do plano de resgate europeu. Logo depois, o pessimismo voltou a toda. Qual é o problema com a Europa?

Nouriel Roubini - Dinheiro não é o bastante para resolver o problema europeu. Os países do sul da Europa estão endividados demais. A solução proposta no pacote é levá-los a um longo período de cortes draconianos e recessão. Isso só vai deixá-los ainda mais longe de atingir as metas de redução da dívida. A Grécia sairá dessa temporada recessiva com uma dívida ainda maior. Os problemas são muito sérios, e resolvê- los da maneira proposta pela União Europeia me parece ser uma missão impossível, além de politicamente inviável. Por isso os mercados reagiram mal: se nem 1 trilhão de dólares resolvem um problema, é sinal de que o imbróglio é realmente muito complicado.

EXAME - Mas havia uma saída melhor?

Nouriel Roubini - Países como a Grécia vão acabar tendo de reestruturar sua dívida ou mesmo deixar a zona do euro. Eles deveriam fazer isso logo, reconhecer que não há como pagá-la. Isso pode ser feito de maneira ordenada, como o Uruguai fez em 2003. Minha expectativa é que, em seis ou 12 meses, eles vão acabar percebendo que é impossível seguir no caminho atual. Os eleitores alemães também entenderão que não faz sentido gastar 140 bilhões de dólares para prevenir o que não é possível prevenir. Quanto mais organizado for esse processo, melhor. A Argentina empurrou o problema até que se viu forçada a dar o calote de maneira caótica em 2001, e foi um desastre. Minha sugestão é que se resolva isso logo para que o resultado seja mais à uruguaia, menos à argentina.

 

 

Fonte: Exame

 

Leia mais em : https://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0969/economia/grecia-ponta-iceberg-563018.html

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