O engenheiro Daniel Kamamoto, de 33 anos, passou muito tempo sem se preocupar em separar as contas pessoais da contabilidade da empresa. Ele é dono da Mix Confecções, fabricante de uniformes de São Paulo que em 2009 faturou 1,5 milhão de reais atendendo clientes como as siderúrgicas Belgo Mineira e CSN. Foi só há quase dois anos, quando a Mix disputava uma concorrência para vender uniformes para uma grande companhia, que Kamamoto começou a perceber o quanto seus negócios podiam estar sendo prejudicados por sua insistência em manter as finanças misturadas - até então, as despesas pessoais eram, na maioria das vezes, lançadas como se fossem da empresa. O mau hábito distorcia sua visão da realidade da Mix. "Comecei a ter dificuldades para saber qual era, de fato, a rentabilidade do negócio", diz ele. "Como era um contrato importante, acabei ficando com medo de tomar decisões equivocadas ao determinar os preços e achei que seria mais prudente desistir da concorrência."
Sem conseguir calcular com precisão em que ponto as margens começavam a ficar perigosamente apertadas, Kamamoto se apercebeu de que, em mais de uma ocasião, chegara perto, muito perto, de fechar contratos que teriam trazido prejuízo à empresa sem que ele tivesse consciência disso. "Diversas vezes eu fiquei em dúvida se um negócio seria lucrativo ou não", afirma.
Agora, Kamamoto parece engajado no combate à contabilidade conjunta - que passou a considerar como a inimiga número 1 da eficiência de uma pequena ou média empresa. Até agora, ele adotou medidas simples, mas eficazes - como usar uma planilha para organizar as despesas pessoais em separado dos gastos da empresa.
Há muito a ser feito ainda. Kamamoto continua usando cartões de crédito em seu nome para financiar a compra dos tecidos e dos aviamentos utilizados na confecção dos uniformes. "Faço isso porque, como pessoa física, tenho mais acesso a crédito do que como pessoa jurídica", diz ele. "Parar de pagar a matéria-prima com meus cartões deve ser o próximo passo rumo à total separação."
O tipo de problema enfrentado por Kamamoto é relativamente comum em pequenas e médias empresas que, pelo menos durante algum tempo, crescem sem que alguém se concentre na tarefa de manter a contabilidade em ordem. "No início, com tantos desa- fios para enfrentar, pode ser difícil compreender que a mistura de contas é muito mais nociva do que se pensa", diz Márcio Iavelberg, da Blue Numbers, consultoria especializada em finanças para pequenas e médias empresas. "À medida que o negócio prospera e o empreendedor é cada vez mais exigido para melhorar a qualidade de suas decisões, a desorganização das finanças vai se tornando um obstáculo cada vez maior à expansão."
Fonte : ExamePME